Tempo de leitura: 9 minutos
O Brasil é um dos países com maior número de pessoas inadimplentes do mundo. Apenas o grupo negativado da população brasileira possui número de indivíduos maior do que a população de qualquer outro país da América do Sul.
Mapeando a inadimplência no Brasil é possível chegar a quatro principais vetores que levam a população e as empresas ao endividamento. O principal destes vetores é o desemprego, responsável por cerca de 26% da população inadimplente. Na segunda colocação vem a redução da renda familiar com representação de 14%, seguido da falta de educação financeira com 11% e da realização de empréstimos em nome de terceiros com 5%.
Segundo a última pesquisa do Serasa Experian (2020), o Brasil tem cerca de 63,8 milhões de pessoas com dívidas pendentes. Além disso o país tem 5,3 milhões de empresas com CNPJ negativado. Um dos principais motivos para toda essa inadimplência no país é o auto índice de desemprego que segundo o IBGE em 2020 atingiu o número recorde de 14,3% da população.
O desemprego leva à inadimplência.
A gravidade de tal problema é que ele é como uma bola de neve, pois, os brasileiros que estão desempregados deixam de pagarem suas contas e passam a comprar menos, o que gera prejuízos financeiros para os negócios que por sua vez acabam demitindo mais funcionários e assim o problema aumenta progressivamente.
Para as empresas, dois fatores altamente impactante para a inadimplência são os juros altos e a inflação elevada. Tais fatores aumentam o número de negócios endividados com fornecedores, bancos e financeiras que por sua vez acabam restringindo o credito, comprometendo ainda mais o mercado, gerando ainda mais desemprego e a longo prazo crises econômicas.
A soma dos fatores descritos acima acaba levando ao desaquecimento da economia e a desvalorização dos salários. Com dificuldades para conseguir uma oportunidade de emprego o trabalhador acaba aceitando salários menores. Essa renda menor juntamente com o aumento dos preços dos itens básicos e a inflação elevada, resultam em uma grande redução do poder de compra do consumidor brasileiro.
Como terceiro principal fator da inadimplência no Brasil temos o empréstimo do nome para terceiros. Ao contrário dos outros vetores já citados, este envolve a responsabilidade do próprio cidadão brasileiro, que muitas vezes age de boa-fé mas, acaba contraindo uma dívida que não se sente responsável por quita-la. Enquanto isso, o “devedor verdadeiro” acaba não tendo o comprometimento com as parcelas uma vez que a responsabilidade e as consequências da dívida não caem sobre ele. Neste caso, investigar o cliente e realizar a análise de crédito corretamente pode impedir que a sua empresa acabe entrando nesse tipo de negócio arriscado.
Falta de educação financeira como fator de inadimplência.
Gastar mal, não saber como organizar o consumo e nem como investir o dinheiro, são espelhos do próximo fator que leva o brasileiro ao endividamento. A tão falada atualmente “falta de educação financeira”.
Não planejar compras e investimentos ou ter reservas para possíveis emergências, levam os brasileiros a se enrolarem em meio a boletos e gastos inesperados. Estes, perdem o controle de suas contas, muitas vezes adquirem dividas para quitar outras dividas e por fim se afogar em juros.
Ainda falando da falta de educação financeira, podemos citar os empréstimos e cartões de credito os quais são responsáveis por 30% das dívidas dos brasileiros, que coincidentemente são onde se aplicam as maiores taxas de juros do mercado.
Além dos fatores já pontuados acima, também podemos citar acidentes e enfermidades como vetores da inadimplência. Situações de emergência em saúde acabam levando a endividamentos que parecem de curto prazo, mas que devido a urgência podem levar a ações não planejadas que geram juros relevantes, como é o caso do uso do cheque especial e de empréstimos bancários de última hora.
O problema é que não é inerente à cultura nacional realizar o planejamento financeiro e o pensamento de longo prazo. Adotar tais práticas significam uma mudança de mentalidade e de atitudes que envolvem principalmente o planejamento para o futuro.
Seguem os setores onde os brasileiros se encontram mais endividados:
- bancos ou cartões de crédito: 30%;
- contas domésticas: 17,9%;
- varejo: 13,7%;
- telefone: 11,1%;
- serviços: 10%;
- empréstimos em financeiras: 9%.
Segundo a pesquisa do Serasa Experian (2019), o acesso ao credito está diretamente ligado à taxa de inadimplência, ou seja, quanto maior ou mais fácil for o acesso ao credito em uma região, maior será o numero de inadimplentes.
Mapeando as regiões do Brasil, temos a Região Sul e Sudeste com menor índice de inadimplência relativo à sua população adulta. Enquanto o maior índice se encontra na região norte sendo, Manaus, no Amazonas, a cidade com maior inadimplência, cerca de 38,1% da sua população adulta. Em seguida em Porto Velho com 37,2%, e Macapá, com 36,4%. Alguns estudos apontam que este alto índice de inadimplência no norte do pais está relacionada a sua renda per capita ser menor que a média nacional.
Indo além da renda e considerando fatores como: educação, geografia, demografia, padrões comportamentais e estilo de vida, identificou-se que o grupo Jovens Adultos da Periferia representa 23% dos inadimplentes no Brasil.
O segundo grupo com maior representatividade entre o total de inadimplentes do Brasil é a Massa Trabalhadora Urbana, que responde por 17% dos endividados. Esse grupo equivale a 14,32% da população do país.
Por outro lado, o grupo Experientes Urbanos de Vida Confortável, apresentou o menor percentual de endividados, representando 2% dos inadimplentes do Brasil.
Boas práticas para uma análise de crédito eficiente.
Visto o contexto da inadimplência no país, saber como fazer uma análise de crédito correta é fundamental para a saúde financeira de todo negócio que vende no crediário. Mesmo tendo anos de experiência no comercio é impossível saber se o cliente vai realmente pagar as prestações.
Uma análise mal feita somada a uma venda volumosa pode significar prejuízos irreparáveis principalmente para pequenos negócios. Logo, saber fazer a análise de credito do cliente é fundamental para garantir a estabilidade financeira de uma empresa.
A análise de crédito segura deve interligar fatores internos e externos ao negócio, incluindo os dados de cadastro já existentes, o histórico de compras dos consumidores e as informações obtidas nos órgãos de proteção ao crédito e bancos de dados públicos.
Dada a importância do assunto, pontuamos algumas boas práticas para ter uma análise de crédito mais eficiente.
Identificar o cliente.
Conferir a documentação do cliente pode evitar cair em golpes aplicado no comércio. Peça ao menos um documento com foto e o CPF, pois é a partir dele que será verificado o crédito. Peça também a comprovação de residência com os dados mais atualizados possível, caso venha a ter algum problema com o cliente pode ser necessário localizá-lo.
Crie o perfil e conheça o cliente.
Coletar o máximo de dados possíveis é fundamental, quanto mais informações sobre o cliente melhor vai ser a definição do seu perfil.
Acesse dados das mais diversas fontes. Banco de dados públicos, scoring de crédito, registros financeiros, entre outros são bons lugares para pesquisar. Isso vai ajudar a traçar o perfil do seu cliente e avaliar os riscos envolvidos nas transações. Não verifique apenas informações do presente, cheque dados antigos e se necessário faça uma projeção do futuro.
Existem fontes de informações mais seguras que outras, porém, no caso de ter que acessar uma das menos confiáveis opte pela mais relevante para a sua região.
Mantenha os dados sempre atualizados para tomada decisões estratégicas. Utilizar sistemas informatizado, estes podem facilitar e agilizar muito este trabalho de pesquisa.
Comprovação de renda.
Desde um contracheque a uma cópia do imposto de renda podem ajudar a traçar o perfil financeiro para o cliente. Confira todas as fontes de renda do cliente, verifique a existência dos CNPJ relacionados e defina um limite de credito baseado em uma porcentagem do ganho total do cliente.
Ter políticas de crédito rígidas e claras.
A política de crédito deve ser alinhada com as necessidades da empresa e do seu público. Tais políticas sempre devem ser desenvolvidas levando em conta os resultados esperados pela empresa, uma vez que permitir o crédito pode refletir em mais vendas deve-se levar em conta que o retorno do capital investido será mais lento. Mesmo com politicas de crédito rígidas, sempre é importante avaliar cada cliente individualmente e enquadrá-lo da melhor maneira possível.
Estabelecer um limite de crédito.
Estabelecer limites de crédito é fundamental para a saúde de seu negócio. Por isso, deve ser feito de maneira consciente e meticulosa. Novamente, quanto mais dados tiver sobre o cliente melhor e mais seguro será para sua empresa. É necessário realizar uma pesquisa de viabilidade de crédito para que seja possível chegar a um valor limite e também é necessário que este valor esteja adequado às políticas de crédito da empresa.
Fazer o monitoramento e controlar as informações e regras de crédito.
Monitore e faça o ajuste de suas políticas e regras de crédito, sempre as alinhando aos objetivos da empresa e das possibilidades de pagamento do seu cliente. Mantenha os perfis dos clientes atualizados, faça o cruzamento de dados e busque sempre resultados mais precisos, desta forma, sua empresa correm menos riscos de ficar sem receber e o cliente de não conseguir pagar.
Automatizar o processo de análise.
Utilizar softwares de análise de crédito pode significar economia de tempo, mão de obra e de dinheiro. Estes sistemas também permitem a padronização dos processos, a redução de erros e um maior entrosamento entre funcionários dos diversos setores em relação aos dados do cliente. Alguns destes softwares de análise podem oferecer uma serie de ferramentas extras que ajudam a obter mais informações sobre o cliente.